Bacia do Acre

A Bacia do Acre, no extremo oeste do Brasil, é uma extensão das bacias de antepaís peruanas de Ucayali e Madre de Dios. Nessa região, a espessura máxima da seção cenozóica é de aproximadamente 2000 metros. Os sedimentos mais antigos de interesse para o nosso projeto são os folhelhos fluvio-deltaicos do Cretáceo Superior das Formações Rio Azul e Divisor, e os sedimentos marinhos rasos a transicionais do Paleoceno-Eoceno inferior da Formação Ramon. Após as fases orogênicas andinas do Eoceno, foram depositados folhelhos marinhos rasos e lacustres, areias e depósitos vermelhos, que compõem as formações Poza, Chambira, Pebas e Ypururu no leste do Peru e a Formação Solimões no oeste do Brasil.

Bacia do Acre (Vasconcellos et al, 2018)
Bacia do Acre (Vasconcellos et al, 2018)

 

Na Bacia do Acre, a Formação Solimões recobre discordantemente a Formação Ramon, mas essa discordância provavelmente não teve longa duração. A Formação Solimões data do Eoceno ao Mioceno superior, com sedimentos predominantemente finos de origem fluvio-lacustre. Somente os sedimentos do Mioceno superior estão expostos. Na Bacia do Acre, a Formação Solimões foi levemente deformada durante a orogênese andina do Mio-Plioceno. As falhas Bata-Cruzeiro e Moa-Jaquirana foram reativadas nesse período, provocando o soerguimento da Serra do Divisor, na fronteira entre Brasil e Peru, e redirecionando as principais drenagens da região.

Fauna terrestre do Mioceno na região da Bacia do Acre (Hoorn et al, 2010 - art by Orlando Grillo)
Fauna terrestre do Mioceno na região da Bacia do Acre (Hoorn et al, 2010 - art by Orlando Grillo)

A seção Cenozoica da Bacia do Acre alcança 2000 m  de profundidade. Durante a perfuração a profundidade atingida foi de 923 m de profundidade, que cobre os depósitos da Formação Içá, do Pleistoceno, e da Formação Solimões, do Mio-Plioceno, que ocorre entre aproximadamente 25-1320 m, e é composta por sedimentos argilosos com areia, silte e camadas de carbonatos.

Acre basin geologic section (Feijo & Souza, 1994)

O local do furo está localizado no município de Rodrigues Alves, às margens do Rio Juruá, a poucos quilômetros da cidade de Cruzeiro do Sul. Os objetivos da perfuração na Bacia do Acre incluem:

– Recuperação de uma sucessão espessa com registro das variações espaço-temporais na biodiversidade e clima da Amazônia próximo ao Equador;
– A Bacia do Acre está bem posicionada para receber sedimentos andinos, registrando, assim, etapas do soerguimento andino e a história da exumação nessas latitudes;
– A presença de arenitos permitirá determinações de proveniência por U-Pb e luminescência, que podem abordar questões sobre a drenagem da Amazônia e o momento de uma possível inversão da drenagem de uma área fonte no escudo continental oriental para uma fonte andina ocidental;
– A proximidade com os Andes também garante que haverá camadas de cinzas vulcânicas que poderão ser datadas, estabelecendo restrições independentes de datação para a palinostratigrafia da bacia amazônica;
– A bacia está bem situada para registrar possíveis incursões marinhas e sedimentação lacustre ou de mega-pântano;
– A abundância conhecida de intercalações carbonáticas e conchas de moluscos nesta bacia permitirá restrições isotópicas sobre os paleoambientes.

O local de perfuração TADP-AC-1 antes da instalação da sonda.

Este é um projeto estritamente acadêmico, dedicado ao avanço das ciências, sem qualquer finalidade financeira ou econômica.

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