Como fazer

Uma perfuração científica

O objetivo deste estudo é obter amostras que serão utilizadas para entender a origem da Amazônia. O desenvolvimento do bioma amazônico teve início há milhões de anos atrás. Compreender os processos geológicos associados à evolução da Floresta Amazônica é de extrema importância para explicar a origem da maior floresta tropical do mundo. No entanto, devido à escassez de rochas na superfície, essas respostas só podem acessadas por meio de perfurações no subsolo. Para os pesquisadores, essas amostras são uma janela para observar eventos que aconteceram há muito tempo atrás na Amazônia.

Portanto

  • O TADP não tem como objetivo coletar ou prospectar óleo (petróleo) ou gás natural,
  • O TADP não tem como objetivo coletar ou prospectar minérios,
  • O TADP não tem como objetivo extrair e comercializar água subterrânea, ou instalar poços artesianos.

O TADP tem o propósito científico de estudar a origem e evolução da Amazônia usando amostras obtidas por perfurações.

Amostras

A perfuração retira testemunhos, que são amostras cilíndricas de rochas e sedimentos. Quanto mais profunda a amostra, mais antiga a camada geológica atingida. O testemunho é obtido em uma operação complexa de perfuração, em que uma sonda colhe rochas e sedimentos em grande profundidade usando tubos de metal. O testemunho deve ser retirado íntegro e protegido para ser estudado. Por isso, é protegido por um tubo de plástico (liner).

A retirada dos testemunhos inclui as seguintes etapas:
1. Perfuração: o testemunho é extraído por uma sonda, que funciona 24 horas por dia, em uma operação que envlve cerca de ao menos 10 trabalhadores especializados. 2. Catalogação: a equipe científica cataloga e armazena os testemunhos, além de fazer análises no local. 3. Acervo: os testemunhos são armazenados em um “respositório” (semelhante a uma biblioteca) e serão usados em muitas pesquisas sobre a Amazônia.

As camadas geológicas e a profundidade

O objetivo do TADP é extrair amostras que serão utilizadas para entender o passado das florestas, do clima e dos rios da Amazônia.

É importante atingir grandes profundidades porque quanto mais profundo é o furo, mais antigos são os materiais geológicos. Perfurar é como fazer uma viagem de volta ao tempo geológico.
Isso é o que possibilita aos pesquisadores estudarem o passado geológico da Amazônia, incluindo a origem da Floresta Amazônica, a evolução dos rios ao longo do tempo e as mudanças climáticas desde milhões de anos atrás.

A operação de sondagem

A perfuração é uma operação complexa que envolve tanto o planejamento e execução de muitas etapas, quanto o gerenciamento das responsabilidades de um número alto de pessoas relacionadas ao projeto. Entre as tarefas do planejamento há a necessidade de, por exemplo, lidar com dificuldades técnicas de equipamento, definição do local de furo, aquisição das licenças e acordos legais necessários, a compra e teste dos materiais de uso recorrente, transporte da estrutura e das testemunhos, treinamento das pessoas envolvidas, logística de estadia e alimentação, entre outros.

O equipamento de perfuração em si é a sonda Boart Longyear LF-230, que foi usada em conjunto com um preventor de explosões (blowout preventer – BOP). Todo o trabalho técnico de sondagem foi feito pela empresa Geosol, sediada em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

A perfuração é feita em fases, após perfurar certo intervalo, é instalado um revestimento de aço para evitar desabamentos que podem obstruir o poço. Também é injetado um fluido de perfuração a base de água e argila para estabilizar as paredes do trecho sem revestimento e trazer detritos de rochas para a superfície. O diâmetro do furo diminui à medida em que a profundidade aumenta.

Ao término dos trabalhos, de acordo com a legislação brasileira, os poços abertos foram preenchido por completo com cimento, os locais foram limpos e deixados de acordo com suas condições naturais pre-existentes.

Após finalizar o primeiro furo, toda a estrutura foi transportada via embarcação até o local do segundo furo.

As pessoas envolvidas

O trabalho para a viabilização do TADP começou anos antes da primeira perfuração, com o planejamento científico e a busca por financiamento. Com a aproximação da data de montagem da sonda no primeiro local de furo, os membros do projeto estavam empenhados em garantir todo o material necessário para o dia a dia de trabalho, e foram feitos treinamentos dos softwares e rotinas da perfuração.

O trabalho durante as sondagens envolveu uma equipe técnica, especializada na operação da sonda, e uma equipe científica, encarregada da descrição e catalogação do material. A perfuração pode ocorrer durante 24 horas por dia, se não houver limitações técnicas, por isso ao longo de meses várias pessoas trabalharam em turnos alternados nas praças de sondagem no Acre e no Pará.

O sucesso do projeto está bastante ligado aos esforços dessas pessoas que contribuíram ativamente para a continuidade da perfuração.

Os lugares e as populações locais

A perfuração na Bacia do Acre ocorreu no município de Rodrigues Alves, que está localizado no oeste do estado do Acre, próximo da fronteira do Brasil com o Peru, onde ainda mais à oeste ocorre a Cordilheira dos Andes e a nascente do Rio Amazonas. Rodrigues Alves e os municípios vizinhos de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul estão em uma região inserida entre a Serra do Divisor e o Rio Juruá, e compartilham características semelhantes do ponto de vista geológico e ambiental. Dessa forma, as atividades de divulgação científica do TADP para a população dessa região puderam explicar a história geológica comum para os três municípios. O oeste do Acre possui população urbana, rural, comunidades ribeirinhas, e povos indígenas, e a história da região, assim como a história do Acre, está bastante vinculada aos ciclos da borracha. Durante as campanhas de disseminação de informação do TADP, a equipe responsável pelo Outreach foi recebida por membros do poder público, professores da rede de ensino, universidades, comunidades ribeirinhas e comunidades indígenas.

Na Bacia de Marajó a perfuração ocorreu no município de Bagre, que faz parte da Mesorregião do Marajó. A maior parte da população do município próxima da baía que separa o município e a Ilha de Marajó. Essa é a região do estuário do Rio Amazonas, uma extensa área de transição entre as águas do Amazonas e o Oceano Atlântico, que é dividida pelas ilhas do Arquipélago de Marajó, o que contribui para a formação de um vasto ambiente costeiro sob influência de marés e com a presença de manguezais. Os sedimentos depositados pelo Amazonas nessa região tem origem principalmente nos Andes, esse é um processo ativo que ocorre há milhões de anos. Apresentar processos como esses para a população da região foi uma das tarefas da equipe de Outreach do TADP, que durante as visitas ao local realizou atividades com representantes do poder público, atividades com professores e alunos nas escolas do município, e atividades em comunidades ribeirinhas.

Armazenamento

Todo o material adquirido nas perfurações foi transportado por embarcação para o LacCore, um repositório estado-da-arte na Universidade de Minnesota. Neste local são feitas a indexação, abertura dos testemunhos, e medidas com equipamentos especializados de susceptibilidade magnética, velocidade acústica, densidade gamma, resistividade elétrica, radiação gama natural, espectrofotometria de cor e fotografia digital de alta resolução. A equipe científica do projeto foi responsável pela decrição sedimentológica de todo o material e amostragem preliminar, que será usada em geocronologia, mineralogia, geoquímica e estudo de microfósseis.

O legado de pesquisas

O TADP reuniu uma equipe científica diversa de 12 países, que pesquisam um leque amplo de disciplinas, incluindo processos do manto, sedimentologia, bioestratigrafia, tectônica, geoquímica orgânica e inorgânica, geofísica, modelagem climática, paleoclimatologia, filogenética, palinologia, paleontologia, hidrologia de águas subterrâneas, microbiologia e biologia evolutiva. O material amostrado pelas perfurações representam um recurso de longo prazo para os pesquisadores das áreas de geociências e biociências. A análise destes sedimentos por equipes interdisciplinares nos próximos anos transformarão o entendimento da história da Amazônia e dos elos dinâmicos entre a evolução biótica e o clima, a tectônica e as mudanças na paisagem.

Este é um projeto estritamente acadêmico, dedicado ao avanço das ciências, sem qualquer finalidade financeira ou econômica.

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